no comboio e chegada a Ulanbataar

A viagem entre Beijing e Ulanbataar leva cerca de 30 horas. Quando entrámos no comboio e encontrámos os nossos lugares ficaram-nos com os bilhetes. O nosso companheiro de compartimento, um alemão simpático, conseguiu arrancar uma gargalhada ao hospedeiro de bordo que ficou convencido que ele tinha comprado dois bilhetes só para ele. Foi inútil tentar explicar que o amigo dele não pôde apanhar o comboio porque não conseguiu o visto a tempo. As únicas palavras que sabem em inglês são ticket e passport.
Chegámos à última estação antes de entrar na Mongólia pelas 20:30 mas esta paragem é extremamente longa porque para além dos trâmites de fronteira é preciso trocar as rodas das carruagens. Tínhamos pensado aproveitar as três horas e meia para sair do comboio e esticar as pernas embora, sem o passaporte que fica com os agentes durante a paragem, não se possa sair da estação. Mas distraímo-nos e quando demos por nós a nossa carruagem já estava a ser içada. Restou-nos aguardar. Apesar da agitação da revista das cabines, da verificação das identidades e da sinfonia de metal a bater em metal adormeci ainda antes que viessem devolver os passaportes.
De manhã resolvemos ir comer alguma coisa ao restaurante para gastar os últimos yuan. Descobrimos que a carruagem-restaurante chinesa, de um industrial quase hospitalar, tinha sido substituída por outra, bem mais acolhedora, mongol. Pedimos uma sopa tradicional mongol (que é basicamente carne cozida em água), um borsch e ovos mexidos com cebola. Estava tudo muito bom e foi barato.
Na aproximação a Ulanbataar passámos pelas zonas de expansão da cidade que são maioritariamente constituídas por ghers. A cidade é enorme e já tem mais de um milhão de habitantes, que é quase metade da população do país.
Na estação aguardava-nos o nosso anfitrião. Veio apanhar-nos e a, pelo menos, mais uma dezena de passageiros. Distribuiu-nos por algumas carripanas soviéticas e levou-nos para o hostel. Depois de alojados tomámos banho, lavámos alguma roupa e combinámos a nossa excursão de seis dias. Saímos para dar uma volta de reconhecimento pelo centro da cidade.
É uma loucura! Começando pelos passeios em terra e acabando no penteado que vimos acabado de sair do cabeleireiro. É tudo simplesmente inesperado mas com uma tremenda carga de energia. Comemos uma sandwich num bar de um canadiano que pelo que percebemos já tinha organizado uma equipa de hóquei no gelo e preparava um concerto de rock para os próximos dias. A comunidade de expats em Ulanbataar tem sem dúvida um papel importante na vida da cidade. Grande parte dos restaurantes, cafés, pubs, padarias e supermercados são de expats e/ou vendem produtos dos seus países de origem. Mas, pelo que nos pudemos aperceber, há também um grande envolvimento no desenvolvimento quer das estruturas físicas quer das humanas. Existem diversas acções de voluntariado a trabalhar nas zonas de expansão da cidade que dão apoio na construção de infra-estruturas básicas, como o saneamento e viemos a conhecer também um rapaz sueco que participou num programa de desporto com crianças. Disse que a Mongólia vai ser a revelação do mundial de futebol de 2020. E eu não me admiraria. Para mim Ulanbataar é the next big thing. Não sei como nem quando, mas que tem um enorme potencial, tem.
Toda esta energia no ar deixou-nos K.O. Tivemos de ir fazer uma sesta ao fim da tarde e só tivemos forças para nos arrastar até ao restaurante mais perto para jantar. Catei um monte de bacon da minha pizza vegetariana e fomos directos dormir outra vez porque saíamos para a nossa expedição no dia seguinte às 7. Fizemos figas para que a carripana não fosse demasiado velha.
Vista de Ulanbataar (foto retirada da entrada Ulan Bator da Wikipédia)

O passeio em frente ao hostel.
Na Peace Avenue, à saída do cabeleireiro.

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