Khognokhan, o deserto e a montanha

(Lembram-se da cena do Slumdog Millionaire?)
Quilometros e quilómetros de recta.
Fim da estrada, fim das tabuletas, fim do mundo tal como o conhecemos...
O primeiro acampamento.
Os painéis solares e parabólicas, a mesa de bilhar e a tabela de basket.
Gher com vista para o deserto.
O decano e o seu monóculo.
A K. e eu tomamos um chá enquanto esperamos que a chuva passe.
Sorrisos de nervoso.
A montanha ao pôr do sol.
Na despedida.

Partíamos às 7:00 mas às 5:00 já estava acordada. Os meus horários estavam completamente baralhados e, como se o jet lag não bastasse, sofro de “síndrome da criancinha a quem se promete alguma coisa”. Fui para o lobby do hostel à procura de chá e acabei por ficar à conversa com uma americana que também ia sair num tour. Californiana e reformada há apenas uns meses, depois de voltar de África onde tinha estado a trabalhar, decidiu que ainda tinha muito mundo para ver e fez-se a caminho. É impressionante a quantidade de gente que encontramos e que só de os conhecermos passamos de grandes aventureiros a meros totós.
À hora marcada a azáfama na entrada do hostel era enorme. Carregavam-se caixas de comida, bidões e garrafas de água. Conhecemos a nossa companheira de viagem, a K., japonesa. Estava também a preparar-se para sair outro carro com mais duas pessoas que acabaram por fazer o mesmo percurso que nós excepto no último dia. Apresentados ao nosso motorista e à nossa guia/cozinheira metemo-nos na carrinha e partimos. A carrinha não era lá muito nova mas compensava em carácter, era amarela e tinha uns bancos grandes, bons para dormir. E abria as janelas sozinha.
Pouco mais de uma centena de quilómetros depois de sairmos de UB, parámos numa estação de serviço para atestar o depósito e disseram-nos para aproveitar para ir ao quarto de banho. Foi a minha primeira experiência completamente fora da zona de conforto. Não há palavras, deixo-vos as fotos. E acabou a estrada. Depois também acabaram as tabuletas e até os caminhos de terra batida. Só uns trilhos e planaltos, planaltos e mais planaltos. Chegámos ao sítio do nosso primeiro acampamento ainda antes do almoço. Ficámos acomodados num gher para visitas de uma família. Muito limpo, simpático e confortável. O acampamento desta família tinha também gerador, painéis solares, parabólica, tabela de basket e mesa de bilhar ao ar livre. Apercebemo-nos depois que estas facilities afinal eram bastante comuns.
Depois do almoço tivemos de esperar que a chuva fosse embora para irmos dar um passeio de camelo pelo deserto. Aguardámos que o decano nos dissesse que era seguro. Observava as nuvens e a chuva com um pequeno monóculo e deixou-me também espreitar. De facto, com toda aquela amplitude é possível ver perfeitamente as colunas de chuva. Aparelharam-nos os camelos e lá fomos.
Ali existe apenas uma pequena mancha de deserto, a que chamam Semi-Gobi e que será apenas uma amostra do grande Gobi. Mas está tudo lá, a areia fina, as dunas e os esqueletos de animais completamente secos e brancos. E não há propriamente uma zona de transição entre a estepe e o deserto. De repente acaba a terra e as ervas e começa a areia. No regresso ao acampamento o condutor dos camelos olhou para nós, sorriu, achou que precisávamos de alguma animação depois do silêncio das dunas e fez os camelos correrem. Para quem não tem ideia, digo-vos que os camelos são bem mais altos que os cavalos e têm bastante mais vontade própria. Quando desmontei para além de ter as pernas a tremer (sim, de medo!) doíam-me os joelhos e tinha uma grande pisadura na canela direita. Nada que o jantar não fizesse esquecer. Prontamente nos puseram a comida à frente e ainda tivemos tempo de ir fazer uma caminhada a um monte próximo antes do pôr do sol. Por esta altura a R. e o A. já tinham sido acomodados também no nosso gher e já éramos travel budies.
Na manhã seguinte fizemo-nos novamente à estrada.

1 comentário:

E disse...

Pareço o Lawrence of #%$#-#abia!